Quando casamos não tem como “zerar” nosso passado e levar para a vida conjugal um “eu” novo, sem nenhuma influência do que ocorreu afetivamente ao longo da infância e juventude. A própria atração que ocorre no namoro e noivado envolve questões ligadas à busca afetiva, inconsciente, do que sentimos que faltou ou existiu no relacionamento com nossos pais (ou cuidadores) no passado. Por exemplo, se você teve um pai agressivo e autoritário, é provável que, como mulher, tenha tendência de se atrair por homem também autoritário e agressivo. Se você é uma mulher autoritária e agressiva, terá a tendência de se aproximar de um homem passivo e submisso para atuar com ele semelhante ao que via em seus pais.
De maneira inconsciente os cônjuges fazem um tipo de pacto para recriar situações problemáticas do passado que existiam na família de origem de cada um. Esposo ou esposa não pensam conscientemente: “Vou repetir o que existiu na casa de meus pais dentro do meu casamento.” Não é algo consciente assim. Não é deliberado, programado, mas uma motivação, uma inclinação, uma tendência para repetir a história passada.
Saímos de nossa infância e adolescência necessitando ajustes emocionais dentro de nós. Alguns vêm para a vida adulta com muitas feridas afetivas, e outros com menos. Umas pessoas crescem com muitos conflitos não solucionados que geram transtornos mentais, complicações nos relacionamentos adultos, doenças psicossomáticas, até problemas sociais. Aquilo que a pessoa não conseguiu resolver individualmente dos relacionamentos passados na família de origem, é recriado na família atual, no casamento. Algumas não aguentando a dor e as complicações dentro do casamento, justamente por estas questões mal resolvidas suas e do cônjuge, se separam e tendem a envolver-se com outra pessoa também complicada que poderá fornecer a repetição, mais uma vez, do conflito básico ainda vivo.
Os conflitos emocionais pessoais que cada cônjuge traz do passado estão na mente de cada parceiro e acabam passando para o relacionamento entre eles. Então, numa briga conjugal há, pelo menos, duas dimensões do conflito, uma consciente e outra inconsciente, uma objetiva e outra subjetiva: (1) Discussão por algo pontual daquele momento. Exemplos: “Você nunca me ouve!”, “Você não coloca limites para seus parentes invadirem nossa privacidade!”, “Você é alegre com estranhos e fechado comigo e com nossos filhos!”, e (2) O que era originariamente solicitado aos pais e que se espera receber do cônjuge. Correspondendo aos exemplos acima, teríamos: “Papai nunca me ouvia!”, “Meus pais permitiam estranhos invadir nossa casa sem colocar limites!”, “Minha mãe era super sociável com estranhos e dura demais com os filhos!”.
Parece que todas as pessoas têm certos aspectos emocionais ainda não resolvidos com seus pais. Uma educadora norte-americana escreveu: “Na disciplina dada durante os primeiros anos da infância, os pais estão produzindo impressões duradouras sobre as mentes de seus filhos. É nestes anos iniciais que eles estão colocando o fundamento do caráter.” Ellen G. White, Manuscript Releases, vol.7, pág. 8. “As lições dadas durante os primeiros anos da vida determinam o futuro da criança.” Review and Herald, 9 Outubro 1900.
“Os problemas dentro do casamento serão mais graves na direta proporção em que houve mais fragmentações afetivas familiares na família de origem.” Maggie Scarf, “Casais Íntimos”, 1990. Ou seja, quanto mais problemática foi sua vida com seus pais, mais complicados poderão ser os conflitos no seu casamento. Muitos que casam para fugir dos problemas que têm com um dos pais ou ambos, geralmente levam os problemas consigo para dentro do casamento. Uma pessoa pode desenvolver independência sadia permanecendo com seus pais até casar e uma pessoa pode fugir da casa de seus pais e continuar dependente.
Como separar problemas do passado individual para que eles não afetem o casamento? (1) Não é afastando geograficamente da família de origem necessariamente. Você pode tornar-se sadiamente independente e viver próximo da sua família de origem, ou pode até mudar de país e no sentido interior, emocional, nunca ter se separado dos pais. (2) Envolve lutar para modificar de forma individual as ligações afetivas originais carregadas exageradamente em algo menos limitante. Exemplo: Se você teve relacionamento muito próximo com seus pais, cheia de abraços, beijos, diálogo, sempre juntos, você precisa aliviar um tanto esta forte necessidade de intimidade, ao invés de cobrar do cônjuge o mesmo padrão de conduta que existia na sua família de origem. Você também precisa de privacidade e pode não perceber isto. Ao contrário, se você veio de uma família que era cada um para seu lado, sem comunicação, tudo separado, você precisa aliviar este isolamento, e se aproximar mais de seu cônjuge. Você pode precisar de aproximação e não perceber isto. (3)Procure obter a capacidade para ser diferente dos pais e não sentir esta diferença como um perda ou traição do modo de uma família funcionar. Em seu casamento você, seu cônjuge e filhos podem precisar de algo diferente do que existiu em sua vida individual e familiar no passado.
Fonte: http://www.portalnatural.com.br/index.php/saude-mental/familia-casal-e-filhos/699-como-separar-problemas-do-passado-individual-para-que-eles-nao-afetem-o-casamento