sábado, 4 de dezembro de 2010

Culto, ou Cerimônia Fúnebre?

ra o último sábado de novembro de 1983. O dia começava a raiar, quando a campainha tocou.
— É o Dr. Borge Schantz — disse minha esposa.
Alguns segundos depois:
— Bom dia, Dr. Schantz. Amanheceu disposto, hem?
— Muito pelo contrário. Não tenho condições físicas para pregar hoje. Por isso vim cedo a sua casa para pedir auxílio. Gostaria que você pregasse em meu lugar, pois estou com muita febre.
— Dr. Schantz, o senhor não está ficando louco? Como pregar de improviso, e, o que é pior, numa língua estrangeira? Por favor, há outros estudantes com mais capacidade.
— Você vai pregar aquele sermonete de ontem; aquele que você apresentou na capela do seminário teológico, como requisito das aulas de oratória sacra. Tente espichá-lo um pouco, e tudo correrá bem.
Os argumentos do pobre estudante foram em vão. Naquela manhã, nem tomei o breakfast, tal a angústia que se abateu sobre mim.
O Dr. Schantz, um dinamarquês que havia trabalhado vários anos na África, e defendera, com muito brilho, uma tese na Universidade Fuller, na Califórnia, era professor de Missiologia e Arte de Falar em Público, no Newbold College. Naquela manhã, ele deveria pregar em Slough, cidade inglesa localizada aproximadamente dez quilômetros de Windsor. Sua doença, porém, mudara o rumo das coisas e, às 10:00 h, estava o pobre estudante à frente de umas cem pessoas, a maioria negros, descendentes de jamaicanos.
O ancião fez uma calorosa apresentação dizendo que um pastor brasileiro estava ali para substituir o Dr. Schantz, naquele culto de sábado. Enquanto todos esboçavam um largo sorriso, as pernas do pregador tremiam  eloqüentemente. (Quem já passou por experiência semelhante, sabe o que isto significa.)
Quando voltei para casa, minha esposa fuzilou:
— E então?
— Os primeiros cinco minutos foram terríveis — respondi. — Mas, à medida que os ouvintes diziam “amém” e demonstravam, pela fisionomia, que a Palavra de Deus lhes era bálsamo para a alma, a despeito das limitações do pregador, fui ganhando confiança. E aconteceu um milagre: trinta minutos!
O autor relata esta singela experiência com um único objetivo: criar um pano de fundo para mostrar que ainda existem igrejas onde os membros fazem das reuniões uma verdadeira festa espiritual. Naquela manhã de sábado, nossos consagrados e animados irmãos de Slough não mereciam um improvisado e vacilante pregador. Uma lição, porém, ficou gravada para sempre: O culto, para eles, não é uma cerimônia monótona; é a festa da alma em comunhão com Deus.
Voltei várias vezes à Igreja Adventista de Slough. Assisti a reuniões da Escola Sabatina, a cultos e programas de jovens. Era contagiante o entusiasmo da congregação. E não era menos contagiante o entusiasmo dos que iam à frente desempenhar suas partes.
Hoje, ao relembrar aquelas reuniões festivas, durante as quais “vibrei” dentro dos limites da minha índole  sul-americana, penso na realidade dos cultos de domingo e quarta-feira, em nossas igrejas. Com algumas exceções, a atmosfera reinante assemelha-se à de uma cerimônia fúnebre…
A esta altura, alguém perguntaria:
E qual é a principal causa dessa situação?
Antes de dar uma resposta (uma tentativa, pelo menos), gostaríamos de dizer que os membros de nossas igrejas ao redor do mundo, reagem de diversas maneiras, durante as reuniões de adoração. E, na maioria dos casos, as reações são ditadas por sua cultura. Há, porém, aqueles que vibram até em lugares onde a índole das pessoas não é afeita a arroubos. Onde estaria a diferença?
Pelo que temos constatado, a raiz do problema jaz na maneiracomo as reuniões são realizadas: falta de esmero e organização, muita conversa fiada (palha), música inadequada (na maioria das vezes, ausência de música), temas enfadonhos — quase sempre apresentados de maneira legalista; monotonia, sem falar na impontualidade, que já se tornou regra em várias igrejas! Diz Eilen White:
“Deve imperar ali [durante as reuniões] a própria atmosfera do Céu. As orações e discursos não devem ser prolixos e enfadonhos, apenas para encher o tempo. Todos devem espontaneamente e com pontualidade contribuir com sua parte e, esgotada a hora, a reunião deve ser pontualmente encerrada. Deste modo será conservado vivo interesse.” — Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 252.
O Espírito de Profecia não está aqui encarecendo a necessidade de um clima emocional. Nada disso. Refere-se a uma atmosfera de alegria e gozo espirituais que deve permear nossas reuniões.
Para que não se assemelhe a um velório, cada reunião deve ser preparada com esmero e oração. Os cultos de sábado, domingo e quarta-feira precisam tornar-se um bálsamo para o viajor cansado. Uma festa para o espírito.
Rubens S. Lessa

Fonte: Novo Tempo

A natureza humana de Jesus

A natureza da humanidade de Cristo é um dos assuntos mais debatidos entre os adventistas do sétimo dia. Era Ele semelhante a Adão antes ou depois da Queda? Para responder a essa pergunta, o pastor Amin A. Rodor, doutor em Teologia Sistemática, concedeu esta entrevista. Formado em teologia no antigo Instituto Adventista de Ensino (IAE), São Paulo, o pastor Rodor iniciou seu ministério em 1970, na União Este-Brasileira, onde atuou como distrital e líder de jovens. Após seus estudos de mestrado em divindade e doutorado por um período de oito anos na Andrews University (EUA), atuou como professor de teologia no ENA, IAENE e no programa de mestrado da Divisão Sul-Americana (DSA). Serviu ainda, por dez anos, como pastor nos Estados Unidos e Canadá. Professor de Teologia, dirigiu o Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia no Campus Engenheiro Coelho, SP. Casado com a enfermeira Rita, tem três filhos: Dianne, Luccas e Michel. Esta entrevista, concedida à Revista Adventista, tem o objetivo de ajudar na compreensão do livro Ellen White e a Humanidade de Cristo, da Casa Publicadora Brasileira.
Basicamente, em que consiste a posição pós-queda (pós-lapsariana) em relação à natureza humana de Jesus?
Pós-lapsariana significa depois do lapso, depois da queda, da entrada do pecado, registrada em Gênesis 3. Fundamentalmente os defensores da teoria pós-lapsariana insistem que, na encarnação, Jesus assumiu a natureza humana, tanto física como moral e espiritual, com todas as características da humanidade caída. Assim, nesta formulação, Jesus, em termos de forma e essência, foi exatamente como qualquer um de nós – cem por cento igual. Absolutamente em nada diferente de qualquer outra criatura nascida no planeta Terra. A. T. Jones, um dos pioneiros desta noção, escreveu: “Em Sua natureza humana, não há uma partícula de diferença entre Ele [Jesus] e vós” (General Conference Bulletin, 1895, p. 231, 233, 436, citado em G. Knight, From 1888 to Apostasy, p. 136.)
Aqui, contudo, temos que parar para refletir. A Bíblia trata a condição natural do homem sob o pecado em termos nada elogiosos (ver Jr 17:9; Sl 51:5; Rm 7:14). Para Ellen White, depois da queda, “no seu âmago, a natureza humana foi corrompida. Desde então, o pecado alcançou todas as mentes” (Review and Herald, 16/04/1901). “Com relação ao primeiro Adão, os homens nada receberam dele senão a culpa e a sentença de morte” (Orientação da Criança, p. 475). Ainda, segundo Ellen White, o egoísmo, profundamente arraigado em nosso ser, “nos veio por herança” (Historical Sketches, p. 138 e139). Embora Jesus não fosse um pecador, como corretamente entendido pelo pós-lapsarianismo, teria Ele sido, realmente, participante da natureza humana corrompida, com tendências, propensões para o pecado e inclinada para o mal?
Os defensores dessa idéia dizem que, uma vez que Jesus foi vitorioso tendo uma natureza como a nossa, também nós podemos ter vitória perfeita sobre o pecado. Quais as implicações disso?
Uma das consequências mais graves, embora isto nem sempre seja percebido ou admitido, é que Cristo deixa de ser primariamente o nosso divino substituto, para Se tornar o nosso modelo de perfeição. Daí para um retorno à confusão entre justificação e santificação, é apenas um passo. Outro desdobramento direto é o perfeccionismo. O raciocínio é precisamente este: “Jesus foi como nós, nós podemos e devemos ser como Ele.” Ainda nesta conexão, como afirmado por M. L. Andreasen e outros defensores do pós-lapsarianismo, enquanto a igreja não aceitar esta mensagem e alcançar um estágio de absoluta perfeição, sua missão não será cumprida e Cristo não virá. Para Andreasen, o segundo advento ainda não ocorreu porque a igreja remanescente tem falhado em alcançar um estágio de absoluta impecabilidade (M. L. Andreasen, The Book of Hebrews, p. 466, 467).
O potencial de confusão aqui é enorme e os resultados negativos de tal teoria na consciência cristã são inevitáveis: complexo de superioridade espiritual, espírito acusador e mentalidade dada à dissensão na Igreja surgirão fatalmente. Sem qualquer dúvida, a santificação é um ideal bíblico para os discípulos de Cristo (Hb 12:4), mas devemos entender o significado bíblico de santificação e perfeição. Para Ellen White, “nós nunca poderemos igualar o Modelo” (Review and Herald, 5/02/1895, p. 81); e ainda, em análise final, “ninguém é perfeito como Jesus” (Manuscrito 24, 1892, citado em G. Knight, em The Pharisee’s Guide to Perfect Holiness, p. 174). Segundo Ellen White, aqueles que realmente estão no caminho da santificação, serão os últimos a alardearem isso (Santificação, p. 7-11). E isso precisamente porque cada vez que nos aproximamos, o ideal se reprojeta para mais distante.
A posição pós-queda tem base bíblica? E o que diz o Espírito de Profecia?
Sem dúvida, a ênfase na humanidade de Cristo é ensino bíblico. Contudo, a Bíblia indica ao mesmo tempo que Ele foi radicalmente diferente de todos os outros homens. Seu nascimento virginal, Sua vida de absoluta “impecaminosidade” e Sua ressurreição vitoriosa deveriam servir-nos de alerta de que em Cristo estamos diante de Alguém exclusivo, único, em todo o reino da humanidade. Ele é o monogenes de Deus, isto é, o único do Seu tipo.
Textos como Hebreus 2:17, Romanos 8:3 e Filipenses 2:7 indicam que, na encarnação, Cristo veio em “semelhança da carne do pecado”. Contudo, devemos ter em mente que a palavra “semelhante”, nesses textos, foi cuidadosamente escolhida, para indicar exatamente isto – “semelhança,” não absoluta igualdade. Além desses, outros textos sobre este assunto são de clareza incontestável. Por exemplo, Hebreus 7:26: “Nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores…” O que é dito aqui não é apenas que Jesus não cometeu atos pecaminosos (os sintomas do pecado), mas que Ele veio em condição de absoluta “impecaminosidade” em Sua natureza essencial. Em João 8:46, Jesus afirma: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” 1 João 3:5 acrescenta: “NEle não há pecado.” Devemos neste ponto rejeitar qualquer noção superficial de pecado. Para Jesus, pecado mais que o ato, é uma condição, um estado, uma inclinação da natureza humana para o mal (Mt 5:21, 22; 15:19), da qual Ele não partilhou. Ao afirmar que ninguém pode convencê-Lo de pecado, isto, portanto, deve ser entendido à luz de Sua própria definição de pecado. Em João 14:30, Jesus faz para Si uma reivindicação absoluta: “Porque se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em Mim.” De qual dos homens isso poderia ser dito?
Ellen White concorre com a mesma ênfase bíblica em relação à natureza incontaminada de Cristo. As citações são inúmeras, mas basta-nos mencionar apenas alguns textos de clareza absoluta: “Ele… é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 202). Quando confrontado com esta citação, na Assembléia da Associação Geral de 1895, A. T. Jones procurou esquivar-se tentando estabelecer uma diferença entre a carne de Cristo e Sua mente. De acordo com Jones, Jesus “foi feito semelhante à carne pecaminosa; não em semelhança de mente pecaminosa… Sua carne foi como a nossa carne, mas a mente foi a mente de Cristo Jesus” (General Conference Bulletim 1895, p. 312, 327; veja G. Knight, em From 1888 to Apostasy, p. 138). A questão aqui é muito simples: como afirmar então que Cristo era absolutamente como nós, “sem uma partícula de diferença”, e ao mesmo tempo dizer que a Sua mente era diferente da nossa? Não é a nossa mente parte de nossa natureza pecaminosa, e precisamente o campo onde se trava a batalha contra o pecado? Além da incrível semelhança com o nestorianismo (heresia cristológica do quinto século, segundo a qual a Palavra tomou o lugar da mente, em Jesus Cristo), tal posição não faz qualquer sentido teológico e destrói todo o discurso de que Cristo é cem por cento como nós.
Ainda da voz profética aos adventistas lemos que Cristo “deveria assumir a posição como cabeça da humanidade, por tomar a natureza mas não a pecaminosidade do homem” (SDABC, Ellen G. White Comments, v. 7, p. 925). E, provavelmente, a mais famosa de todas as citações de Ellen White, conhecida por qualquer estudante da cristologia: “Sede cuidadosos, extremamente cuidadosos, quando tratais com o tema da natureza humana de Cristo; não O representeis perante as pessoas como um homem com propensões para o pecado”(SDABC, v. 5., p. 1.113). Ainda no mesmo contexto, ela adverte: “Nunca, de forma alguma, deixeis a mais leve impressão sobre as mentes humanas de que a mancha ou a inclinação para a corrupção permaneceram sobre Cristo, ou que Ele de algum modo tenha cedido à corrupção” (Ibidem, p. 1.128, 1.129).
O que enfatizam os defensores da posição pré-queda (pré-lapsariana)?
A posição pré-queda afirma que, enquanto seja claro que Jesus partilhou uma íntima afinidade conosco, as evidências bíblicas também indicam que Ele foi, ao mesmo tempo, radicalmente diferente de nós. Assim, por um lado, Ele sujeitou-Se às leis da hereditariedade, encarnando as “fraquezas inocentes” desta condição: Ele sentiu fome, sede, ficou cansado, frustrado e, às vezes, deprimido e triste. Tomou todas as limitações físicas dos descendentes de Adão. Por outro lado, em Sua natureza moral e espiritual, era como Adão antes da queda. Absolutamente puro, incontaminado de qualquer mancha. Do ponto de vista moral, Ele Se ergue como o nosso perfeito substituto. Sobre Sua encarnação miraculosa, Gabriel informa à virgem: “Descerá sobre ti o Espirito Santo. [...] Por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35).
Em nossa natureza existe uma afinidade natural com o pecado. Comentando a profecia da inimizade entre a mulher, sua descendência e o seu descendente (Gn 3:15), Ellen White enfatiza que, em nós, essa inimizade não é natural, de fato: “Não existe, por natureza, nenhuma inimizade entre o homem pecador e o originador do pecado” (O Grande Conflito, p. 505). Em relação a Jesus, contudo, Ellen White declara: “Com Cristo a inimizade era em certo sentido natural; em outro sentido foi sobrenatural, visto combinarem-se [nEle] humanidade e divindade. E nunca se desenvolveu a inimizade a ponto tão notável como quando Cristo Se tornou habitante da Terra” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 254). Portanto, “não devemos ter dúvidas acerca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de Cristo” (Ibidem, v. 1, p. 256).
Poderia citar mais um argumento em favor dessa interpretação?
Outro forte argumento derivado do princípio de interpretação bíblica, conhecido como “analogia da fé”, consiste no fato de que as Escrituras não podem contradizer-se. Poderíamos, à luz do ensino bíblico quanto à nossa necessidade de um Salvador absolutamente incontaminado pelo pecado, insistir que Cristo possuiu uma natureza desorganizada e corrupta, sob a depravação do pecado? Poderíamos defender que Sua natureza moral foi imersa no egoísmo que infectou toda a raça humana? Egoísmo “entretecido em nosso ser” e que “nos veio por herança” (Ellen White, Historical Sketches, p. 138, 139)? Poderia Jesus Cristo ser realmente como nós em Sua natureza moral, e ainda assim estar qualificado para ser o nosso advogado, intercessor e substituto?
Cristo foi “infectado” ou “afetado” pelo pecado?
De fato, afetado, mas não faria qualquer sentido exigir que Ele tivesse sido ao mesmo tempo infectado pela doença sistêmica do pecado, que nos envolve a todos, e que é precisamente a base da nossa necessidade de redenção.
Muitos creem que Jesus tinha que ser exatamente como nós, ter as mesmas propensões pecaminosas inerentes, para poder nos ajudar. É procedente esse tipo de raciocínio? Em última análise, essa é outra má compreensão. Em primeiro lugar, porque era impossível Jesus suportar cada tentação que sobrevém aos diferentes tipos de pessoas. Se Ele, por exemplo, era homem, solteiro e pobre, como poderia “ser tocado pelos sentimentos” das mulheres, dos casados e dos ricos? Uma pessoa não é tentada em termos daquilo que ela não é. Em segundo lugar, além de impossível, seria inútil que Jesus experimentasse cada tentação que cada pessoa enfrenta. A tentação tem significado apenas quando ela é adequada a uma pessoa em particular. O diabo tentou Jesus com apelos que se constituíram em tentação para Ele. O uso da Sua divindade em benefício próprio, por exemplo. Finalmente, além de impossível e inútil, seria desnecessário para Jesus lutar com cada tentação que sobrevém a cada pessoa. Cristo necessitou apenas vencer onde Adão falhou, sem necessitar ter as propensões para o pecado. A acusação de Satanás não era que seres pecaminosos não poderiam guardar a lei de Deus, mas que Adão, antes da queda, não podia fazê-lo. Jesus desfez o engano, assumindo a humanidade, não como qualquer descendente de Adão, mas como o segundo Adão (Rm 5:12-21; 1Co 15:45-47), ainda que, do ponto de vista físico, em condição de extrema desvantagem.
Então, onde está a identificação de Cristo conosco, em nossas tentações?
Em Sua vitória sobre a essência do pecado! Em sua base, toda tentação tem um elemento comum: levar-nos a viver de forma independente de Deus; levar-nos a romper com a lealdade a Ele, por prazer, honra, posição ou vantagem. Jesus venceu a causa básica do pecado, afirmando Sua completa dependência de Deus e Sua lealdade absoluta a Ele. Aí Ele esmagou a cabeça da serpente, e em Sua vitória está assegurada a nossa vitória.
Jesus, portanto, estava plenamente qualificado para ser a nossa oferta.
Como poderia Jesus ser realmente nosso substituto, a oferta vicária pelo pecado, se Ele fosse exatamente como nós, em Sua natureza moral e espiritual? Neste caso, Ele próprio estaria em necessidade de um redentor, e assim não passaria no teste de qualificação para ser a nossa oferta. No antigo santuário, uma das exigências cruciais para as ofertas que tipificavam o Redentor futuro era que “nenhuma coisa em que haja defeito oferecereis, porque não seria aceita a vosso favor” (Lv 22:20). Não é de surpreender, portanto, que para Ellen White, “o homem não pode fazer expiação pelo homem”, uma vez que “sua condição caída constituiria uma oferta imperfeita” (Review and Herald, 17/12/1872, citado por W. Whidden, Ellen White e a Humanidade de Cristo, p. 38). Assim, ela afirma: “Por um lado, Cristo é um representante perfeito de Deus; por outro, Ele é um espécime perfeito da humanidade sem pecado” (SDABC, v. 7, p. 907). A conclusão lógica é inevitável e reveladora: “Ele não necessitou de expiação” (Review and Herald, 09/21/1886). Foi o nosso perfeito, imaculado, puro e todo-suficiente Redentor!

Fonte:Novo Tempo

O erro dos outros

Há poucos anos fui convidado para um encontro de músicos. Durante a programação, houve um debate e alguns acabaram se exaltando, dividindo o grupo entre liberais e conservadores e acusandose
mutuamente. Fiquei impressionado quando uma irmã pediu a palavra e, ao tentar defender a vontade de Deus, começou a acusar o outro lado de maneira muito dura. Tinha razão em algumas coisas, mas
o modo como falava e a forma como tratava os que pensavam diferente dela eram extremamente desagradáveis.
O que me deixou ainda mais chocado foi escutar suas acusações e ao mesmo tempo notar que ela não era capaz de reconhecer sua própria condição. Sua aparência pessoal também estava fora de harmonia com o que a Bíblia ensina. Suas roupas, jóias, ornamentos, entre outras coisas, estavam em grande conflito com a vontade de Deus em relação à música que ela questionava.
Ao ouvir o discurso dela, fiquei pensando: “Que pena! É tão fácil enxergar o erro dos outros e tratá-lo de forma impaciente e intolerante. Pena que seja tão difícil enxergar o próprio erro com a mesma gravidade” O tema era importante, mas a maneira como estava sendo abordado era imprópria para um encontro cristão.
Com razão, alguém disse, usando um jogo de palavras, que “normalmente o problema não é o problema, mas o problema é como se trata o problema”. Por isso, Ellen  White lembra que “Deus quer que  sejamos sempre calmos e tolerantes. Qualquer que seja o procedimento de outros, devemos representar a Cristo, fazendo o que Ele faria em circunstâncias semelhantes. O poder do nosso Salvador não consistia no emprego de palavras vigorosas e incisivas. Foram a Sua gentileza, Seu espírito abnegado e despretensioso que fizeram dEle um conquistador de corações. O segredo do nosso êxito está em revelarmos o mesmo espírito” (Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 156).
Sem dúvida, conquistamos muito mais com os joelhos do que com a língua e ajudamos muito mais com nossos conselhos e orações do que com críticas ou acusações.
Falando aos fariseus, Cristo tratou com clareza essa questão em Mateus 7:1-5. Eles tinham o hábito de enxergar com precisão o erro dos outros, mas passavam por alto seus próprios problemas. O diagnóstico foi claro: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?” (v. 3). É fácil enxergar o que os outros fazem como um grande erro e o que nós mesmos fazemos como uma simples fraqueza. É fácil dizer que para o erro dos outros não há justificativa, mas para os nossos existem explicações. Não podemos esquecer a regra áurea de Cristo: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (v. 12).
A igreja precisa ser um lugar de amor, onde gastamos mais tempo compreendendo e ajudando aqueles que possuem limitações. Assim como temos nossas fraquezas, contra as quais lutamos e precisamos de ajuda e compreensão, os outros também precisam de nossa força e oração, mesmo que suas falhas pareçam óbvias. Vamos lutar com nossos próprios erros e orar pelos dos outros. Esse é um grande desafio pessoal que deve ser conquistado pela graça de Cristo.
Não devemos, com isso, ignorar os problemas que afetam nossos membros ou a própria igreja, mas devemos agir da maneira certa, para realmente salvar ao invés de ferir. Não podemos nos tornar juízes ou investigadores da vida de nossos irmãos; tampouco, devemos nos ocupar da divulgação das fragilidades da igreja ou do erro dos outros, sendo assim portavozes do acusador (Ap 12:10). Quando nossos soldados lutam entre si, perdem a batalha. É por isso que Eilen White afirma: “Os soldados de Cristo talvez nem sempre revelem perfeição em sua marcha, mas as suas faltas não devem suscitar, da parte de seus companheiros, palavras que debilitem, e sim, palavras que fortaleçam e que os ajudem a recuperar o terreno perdido” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 344,345).
Precisamos levar essa questão a sério, porque “Deus responsabilizará aqueles que expõem insensatamente as faltas de seus irmãos por um pecado de maior magnitude do que responsabilizará aquele que dá um passo errado. A crítica e a condenação dos irmãos são consideradas como crítica e condenação de Cristo” (p. 345).
Erton Kohler
é presidente da Divisão Sul-Americana

Fonte: Novo Tempo

O Perfeccionismo e Sua Cura

Quem já não ouviu falar de pessoas que eram ativas na I igreja, zelozas e fiéis, e que, de súbito, sem uma razão aparente, abandonaram a fé?
Provavelmente tenham sido vítimas do perfeccionismo, um mal muito comum entre os crentes, e até mesmo entre líderes religiosos. É verdade que nem sempre os perfeccionistas chegam à apostasia, mas é bem provável que, mesmo dentro da igreja, eles se tornem infelizes e descontentes, em vez de cristãos alegres e confiantes.
O  que é perfeccionismo? É um sentimento interior de insatisfação com aquilo que se faz, ou com aquilo que já se alcançou, principalmente no que se refere às coisas religiosas. É uma preocupação constante de ainda não ter agradado a Deus o suficiente. Uma pessoa assim está sempre procurando alguma coisa, sempre lutando, e geralmente carrega uma sensação de culpa, por achar que não está conseguindo tudo o que imagina que Deus espera dela. É como se ela estivesse se esforçando para chegar até Deus, O qual ela vê como estando no alto de uma escada. Assim, ela se põe a subir, degrau por degrau, com todo o empenho e abnegação. Mas chegando ao alto, ela descobre que Deus avançou mais três degraus. Então ela resolve esforçar-se um pouco mais. E sobe, e luta, mas quando chega lá, o seu Deus já subiu mais três degraus. Todos nós podemos ser presa dessa distorção religiosa. Pode ser um jovem, no vigor de seu idealismo. Pode ser um crente humilde, na sua simplicidade. Pode ser um professor ou um pregador. Se for um pregador, ele irá procurar incutir esse sentimento em toda a sua congregação, através de infinitas regras e exortações. Se for um administrador, ele tentará manter seus liderados sob essa tensão do dever nunca cumprido suficientemente, sempre um pouco mais além do que o alcançado. Alguém perguntou a um cristão com essas características: “O que é Deus, para você?” A resposta foi: “Deus? Ah, para mim Deus é aquela vozinha interior que está sempre dizendo: ‘Ainda não está bom.’”
O perfeccionismo leva muitos à derrota na caminhada cristã e afasta as pessoas do reino de Deus.
Ao mencionarmos aqui a palavra perfeccionismo, por certo logo se levantarão várias bandeiras de defesa a ela. Por acaso a Bíblia não fala da perfeição cristã? É certo que sim. Mas há uma grande diferença entre perfeição cristã e perfeccionismo, embora aparentemente possam parecer semelhantes. Perfeição cristã é o constante e natural crescimento espiritual do crente, fruto da graça de Deus
no coração. Vem como resultado da ação do Espírito Santo na vida. É sinônimo de santificação, e é obra da vida toda. Mas sua consecução não traz ansiedade nem descontentamento. Pelo contrário. Infunde alegria e paz. Perfeccionismo é uma distorção da verdadeira perfeição cristã. O perfeccionismo, em vez de fazer de nós pessoas santas, com uma personalidade equilibrada e sadia, isto é, pessoas completas em Cristo, transforma-nos em fariseus espirituais e em neuróticos emocionais. É resultante de conceitos errados a respeito de Deus e da religião.
Problema antigo
O objetivo deste artigo não é tecer críticas aos perfeccionistas, pois, em regra geral, são pessoas sinceras e desejosas de agradar a Deus, embora por caminhos errados. E é provável que grande parte dos mais sinceros e dedicados cristãos, em uma ou outra fase da sua vida, sejam vítimas deste mal. O intuito destas reflexões é ajudar aqueles que estão passando por essa experiência aflitiva, a encontrarem o verdadeiro sentido da religião de Cristo, e a usufruírem da alegria e da felicidade que dela advêm, quando bem compreendida e aceita.
Este problema sempre existiu ao longo da história da Igreja, embora ele seja identificado por outros nomes. John Fletcher, um contemporâneo de João Wesley, escreveu a respeito:
“Algumas pessoas atam pesados fardos às suas costas, fardos que elas próprias criam. Depois, sentindo que não conseguem carregá-los, ficam atormentadas por sentimentos de culpa imaginária. Outras quase enlouquecem com infundados temores de haverem cometido o pecado imperdoável. Em suma, estamos vendo centenas de pessoas que, tendo motivos para sentirem-se bem espiritualmente, preferem pensar que não existe mais nenhuma esperança para elas.”
E o próprio reformador João Wesley, de quem a Igreja Adventista herdou muitos conceitos teológicos, registrou o mesmo problema:
“Às vezes, a consciência sensível, que é uma qualidade excelente, pode ser levada a extremos. Temos visto pessoas que têm temores, quando não há razão para isso; que estão continuamente condenando-se, mas sem causa, imaginando que certas coisas são pecaminosas, quando não há nada nas Escrituras que as condene, e supondo ser seu dever fazer outras, que a Bíblia não ordena. Isso pode ser corretamente identificado como consciência escrupulosa, e na verdade é um grande mal. É preciso que essas pessoas cedam o menos possível a essas idéias, e orem para que sejam libertas desse grande mal, e recuperem a sensatez da mente.” — The Conscien-ce Alone Not a Safe Guide, Arthur Z. Zepp.
Ellen White  trata dessa questão nas seguintes palavras: “Pessoas há com imaginação doentia para as quais a religião é um tirano regendo-as com vara de ferro. Essas pessoas estão continuamente lamentando sua pecaminosidade e gemendo sob o peso de supostos pecados.” — Testimonies, vol. 1, pág. 565
Sintomas do perfeccionismo
Mas, para que possamos fazer uma análise de nós mesmos, vejamos quais são os sintomas do perfeccionismo. O Dr. David A. Sea-mands, psicólogo e conselheiro espiritual de grande experiência, escreveu um livro intitulado “Cura Para Traumas Emocionais” (tradução da Editora Betânia), cuja leitura poderá ser de muita ajuda espiritual a todos. (A esta obra pertencem muitos conceitos aqui expostos.) O Dr. Seamands apresenta em seu livro, as principais características do complexo de perfeccionismo. São elas:
1. Tirania dos Deveres — O principal sinal deste problema é uma sensação de que nunca se está agindo da melhor maneira possível. Algumas frases típicas são: “Eu devia ter feito melhor”; “eu não devia ter feito isto”; “devo fazer aquilo”; “devo melhorar”. Torna-se a religião do “devo” e “não devo”. É como se esse indivíduo estivesse nas pontas dos pés, estendendo o braço ao máximo para alcançar um nível, mas nunca o consegue. Por isso vive num clima de eterna insatisfação.
2. Auto depreciação — Há uma grande relação entre o perfeccionismo e a auto-imagem negativa. Por não conseguir nunca alcançar o alvo a que se propõe, o perfeccionista está sempre descontente consigo mesmo. E, como conseqüência, acha que Deus também não está satisfeito com ele. Para o perfeccionista Deus é muito exigente, sempre mais do que podemos alcançar. E esse sentimento é transmitido aos demais que convivem com ele. Assim é que, muitas vezes, pais inculcam esse conceito de Deus em seus filhos, dando-lhes uma idéia errada da religião.
3. Ansiedade — Como resultado dos escrúpulos exagerados, e da grande preocupação com o que se deve e o que não se deve fazer, é natural que o perfeccionista viva em clima de constante ansiedade que acaba por corroer sua alegria, seu bom humor e sua saúde.
4. Legalismo — Na verdade o que existe no fundo do perfeccionismo é uma não aceitação plena da salvação pela graça, e uma tentativa, talvez inconsciente, de salvação pelas obras. O perfeccionista dá uma exagerada importância ao exterior, ao que pode e ao que não pode, às regras e regulamentos. Ele encontra dificuldade em compreender as boas obras como resultado da salvação e não como causa também. E essa maneira de encarar a religião torna-se para ele uma fonte de instabilidade espiritual e emocional.
E quais as conseqüências do perfeccionismo ?
1. Falta de paz interior.
2. Dá aos outros uma noção errada a respeito de Deus e da religião.
3. Leva ao desânimo, quando a pessoa vai percebendo que nunca consegue alcançar tudo o que acha que deveria alcançar.
4. Pode levar até a um colapso nervoso. O fardo que o perfeccionista carrega vai-se tornando pesado demais e a pessoa pode acabar sucumbindo a esse peso.
Foi exatamente isso que aconteceu com Joseph R. Cooke, professor de Antropologia da Universidade de Washington, conforme conta o Dr. Seamands. O Professor Cooke era um profundo conhecedor de Teologia Bíblica. Tornou-se missionário na Tailândia, mas, após passar alguns anos em seu campo de trabalho, ficou com esgotamento nervoso. Não era mais capaz de pregar ou de ensinar, e nem ao menos ler a Bíblia. Como ele mesmo explicou depois: “Eu era um peso para minha esposa, e estava sem utilidade alguma para Deus e para os homens.”
Mas como foi que isso aconteceu? Mais tarde ele escreveu um livro intitulado “Free for the Ta-king” (De Graça: É Só Pegar), onde ele conta sua experiência. Diz ele: “Eu criei um Deus impossível e acabei tendo um esgotamento nervoso. As exigências que Deus me fazia, em meu modo de pensar, eram demais elevadas, e Sua opinião a meu respeito era tão baixa que parecia estar-me constantemente vivendo sob Seu olhar carregado e sisudo. E parecia que Deus ficava o dia todo a Se implicar comigo: ‘Por que não ora mais? Por que não se esforça mais no trabalho? Como pode ainda ter pensamentos maus? Faça isto. Não faça aquilo. Renda-se. Confesse.’ E parecia que Deus estava sempre comparando o Seu amor com a minha miséria pessoal. E depois de tudo avaliado, ficava-me a impressão de que não havia nenhuma palavra ou sentimento, nenhum pensamento ou decisão minha que Deus apreciasse.”
Comentando a experiência do Professor Cooke, escreveu o Dr. Seamands: “Está vendo por que um fiel seguidor de Cristo, que tem este tipo de pensamento, acaba com um esgotamento nervoso? Após todos esses anos em que tenho pregado e orado por pessoas em nossas igrejas, cheguei à conclusão de que o perfeccionismo é uma doença muito comum entre os membros das igrejas.”
Existe solução
Existe cura para o perfeccionista? Sim. Mas apenas uma única maneira de cura. A aceitação da graça de Cristo como o meio todo-suficiente para a salvação e a vida cristã. A palavra graça, na Bíblia, significa “um favor dado de graça, não merecido, não comprado, impossível de ser retribuído”. A aceitação de Deus para conosco não tem nada a ver com o nosso desvalor. Como afirmou em seu livro o Professor Cooke, “graça é o rosto compassivo que Deus tem quando olha para nossa imperfeição, para nosso pecado, nossa fraqueza e fracasso. Quando Deus Se acha diante do pecador, do que não merece nada, Ele é todo graça”. A graça é um presente de Deus. “E grátis: é só pegar.” A cura do perfeccionismo não pode começar com uma experiência inicial de salvação pela graça, e depois prosseguir com uma tentativa de busca da perfeição pelo esforço próprio. Essa cura se processa através de um viver diário de fé, entendendo que nosso relacionamento com o Pai celestial, terno e amoroso, é um relacionamento baseado na graça. E para o perfeccionista não é fácil compreender isso, pois ele “programou” sua mente de maneira errada, e precisa agora uma “reprogramação” do modo de pensar a respeito de Deus e da religião.
Escreveu Eilen G. White: “Muitos estão perdendo o caminho certo em conseqüência de pensarem que precisam escalar o céu, que precisam fazer para merecer o favor de Deus. Procuram tornar-se melhores por seus próprios desajudados esforços. Isto jamais podem realizar. Cristo abriu o caminho, morrendo como nosso sacrifício, vivendo como nosso exemplo, tornando-Se nosso grande Su-mo-sacerdote. Ele declara: ‘Eu Sou o caminho a verdade e a vida.’ Se por alguns esforços próprios pudéssemos avançar um passo para a escada, as palavras de Cristo não seriam verdadeiras.” — Review and Herald, 4 de novembro de 1890.
Em outra importante declaração, Eilen G. White, comentando a preciosa lição de fé ensinada por Jesus a Nicodemos, afirma: “Milhares existem hoje em dia que necessitam da mesma verdade ensinada a Nicodemos mediante a serpente levantada. Confiam em sua obediência à lei de Deus para se recomendarem a Seu favor. E quando são solicitadas a olhar a Jesus e crer que Ele os salva apenas pela Sua graça, exclamam: ‘Como pode ser isso?’” — O Desejado de Todas as Nações, pág. 124.
Os perfeccionistas inculcaram em sua mente expectativas irrealistas, realizações impossíveis, amor condicional, e uma sutil teologia de obras. Nenhuma ida perante o altar mudará automaticamente isto.
A mudança requer tempo, compreensão, cura, e acima de tudo uma reprogramação — a renovação da mente que traz transformação. Segundo relata o Dr. Seamands, foi isso o que aconteceu na vida de certo jovem. Don havia crescido em uma família evangélica muito rígida, onde quase tudo o que as crianças faziam era errado. Don cresceu com um conceito de amor condicional, no trato que recebeu dos pais: “Nós o amaremos se… ” “Nós gostamos de você, quando… ” “As pessoas só gostam de você se você… “. E ele cresceu com o sentimento de que quase nunca conseguia agradar plenamente os pais.
Naturalmente sua religião também foi sendo moldada sob a influência desses conceitos. Quando Don estava com trinta anos, começou a sofrer de depressões e procurou o Dr. Seamands. Suas depressões estavam-se tornando cada vez mais freqüentes, e ele estava assustado com isso. Alguns colegas da igreja tornaram a situação pior. Disseram a Don que seu problema era espiritual, pois um cristão verdadeiro não tinha tais sentimentos. Assim, além de ter o problema das depressões, Don passou a sentir-se culpado por ter tais depressões.
Deixemos que o próprio Dr. Seamands descreva a parte final desta experiência:
“Nosso trabalho com Don levou mais de um ano. Durante esse período conseguimos sanar muitas de suas lembranças dolorosas, e reformular novas maneiras de enfrentar a realidade. Ele fez tudo o que lhe era pedido; fez anotações diárias acerca de seus sentimentos, leu bons livros, ouviu fitas, memorizou muitos textos bíblicos e dedicou bastante tempo à oração, com petições específicas e positivas. A cura não se deu da noite para o dia, mas graças a Deus ela veio. Devagar, mas sem falhar, Don foi descobrindo o amor através da incrível e incondicional aceitação de Deus para com Ele, como pessoa. Suas depressões foram-se tornando cada vez menos freqüentes. E ele não teve que se esforçar muito para livrar-se delas; elas mesmas foram cessando, como folhas mortas caem de uma árvore, na primavera, quando nascem as novas. Ele conseguiu aprender a controlar melhor suas ações e pensamentos. Afinal suas depressões cessaram, e hoje ele tem apenas os altos e baixos normais a todos nós. E sempre que encontro Don sozinho, ele sorri e diz: “Doutor, ainda parece que é bom demais para ser verdade, mas é verdade!”
Prezado leitor, o segredo da paz interior e da felicidade cristã está em aceitar o terno convite de Jesus: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve.” Mat. 11:28-30.
Experimente. Há de raiar um novo dia em sua vida!
Tércio Sarli
Fonte: Revista Adventista ,  jun 1989 . pg 13.
www.revistaadventista.com.br

Fonte:Novo Tempo