ra o último sábado de novembro de 1983. O dia começava a raiar, quando a campainha tocou.
— É o Dr. Borge Schantz — disse minha esposa.
Alguns segundos depois:
— Bom dia, Dr. Schantz. Amanheceu disposto, hem?
— Muito pelo contrário. Não tenho condições físicas para pregar hoje. Por isso vim cedo a sua casa para pedir auxílio. Gostaria que você pregasse em meu lugar, pois estou com muita febre.
— Dr. Schantz, o senhor não está ficando louco? Como pregar de improviso, e, o que é pior, numa língua estrangeira? Por favor, há outros estudantes com mais capacidade.
— Você vai pregar aquele sermonete de ontem; aquele que você apresentou na capela do seminário teológico, como requisito das aulas de oratória sacra. Tente espichá-lo um pouco, e tudo correrá bem.
Os argumentos do pobre estudante foram em vão. Naquela manhã, nem tomei o breakfast, tal a angústia que se abateu sobre mim.
O Dr. Schantz, um dinamarquês que havia trabalhado vários anos na África, e defendera, com muito brilho, uma tese na Universidade Fuller, na Califórnia, era professor de Missiologia e Arte de Falar em Público, no Newbold College. Naquela manhã, ele deveria pregar em Slough, cidade inglesa localizada aproximadamente dez quilômetros de Windsor. Sua doença, porém, mudara o rumo das coisas e, às 10:00 h, estava o pobre estudante à frente de umas cem pessoas, a maioria negros, descendentes de jamaicanos.
O ancião fez uma calorosa apresentação dizendo que um pastor brasileiro estava ali para substituir o Dr. Schantz, naquele culto de sábado. Enquanto todos esboçavam um largo sorriso, as pernas do pregador tremiam eloqüentemente. (Quem já passou por experiência semelhante, sabe o que isto significa.)
Quando voltei para casa, minha esposa fuzilou:
— E então?
— Os primeiros cinco minutos foram terríveis — respondi. — Mas, à medida que os ouvintes diziam “amém” e demonstravam, pela fisionomia, que a Palavra de Deus lhes era bálsamo para a alma, a despeito das limitações do pregador, fui ganhando confiança. E aconteceu um milagre: trinta minutos!
O autor relata esta singela experiência com um único objetivo: criar um pano de fundo para mostrar que ainda existem igrejas onde os membros fazem das reuniões uma verdadeira festa espiritual. Naquela manhã de sábado, nossos consagrados e animados irmãos de Slough não mereciam um improvisado e vacilante pregador. Uma lição, porém, ficou gravada para sempre: O culto, para eles, não é uma cerimônia monótona; é a festa da alma em comunhão com Deus.
Voltei várias vezes à Igreja Adventista de Slough. Assisti a reuniões da Escola Sabatina, a cultos e programas de jovens. Era contagiante o entusiasmo da congregação. E não era menos contagiante o entusiasmo dos que iam à frente desempenhar suas partes.
Hoje, ao relembrar aquelas reuniões festivas, durante as quais “vibrei” dentro dos limites da minha índole sul-americana, penso na realidade dos cultos de domingo e quarta-feira, em nossas igrejas. Com algumas exceções, a atmosfera reinante assemelha-se à de uma cerimônia fúnebre…
A esta altura, alguém perguntaria:
E qual é a principal causa dessa situação?
Antes de dar uma resposta (uma tentativa, pelo menos), gostaríamos de dizer que os membros de nossas igrejas ao redor do mundo, reagem de diversas maneiras, durante as reuniões de adoração. E, na maioria dos casos, as reações são ditadas por sua cultura. Há, porém, aqueles que vibram até em lugares onde a índole das pessoas não é afeita a arroubos. Onde estaria a diferença?
Pelo que temos constatado, a raiz do problema jaz na maneiracomo as reuniões são realizadas: falta de esmero e organização, muita conversa fiada (palha), música inadequada (na maioria das vezes, ausência de música), temas enfadonhos — quase sempre apresentados de maneira legalista; monotonia, sem falar na impontualidade, que já se tornou regra em várias igrejas! Diz Eilen White:
“Deve imperar ali [durante as reuniões] a própria atmosfera do Céu. As orações e discursos não devem ser prolixos e enfadonhos, apenas para encher o tempo. Todos devem espontaneamente e com pontualidade contribuir com sua parte e, esgotada a hora, a reunião deve ser pontualmente encerrada. Deste modo será conservado vivo interesse.” — Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 252.
O Espírito de Profecia não está aqui encarecendo a necessidade de um clima emocional. Nada disso. Refere-se a uma atmosfera de alegria e gozo espirituais que deve permear nossas reuniões.
Para que não se assemelhe a um velório, cada reunião deve ser preparada com esmero e oração. Os cultos de sábado, domingo e quarta-feira precisam tornar-se um bálsamo para o viajor cansado. Uma festa para o espírito.
Rubens S. Lessa
Fonte: Novo Tempo
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