sábado, 4 de dezembro de 2010

O erro dos outros

Há poucos anos fui convidado para um encontro de músicos. Durante a programação, houve um debate e alguns acabaram se exaltando, dividindo o grupo entre liberais e conservadores e acusandose
mutuamente. Fiquei impressionado quando uma irmã pediu a palavra e, ao tentar defender a vontade de Deus, começou a acusar o outro lado de maneira muito dura. Tinha razão em algumas coisas, mas
o modo como falava e a forma como tratava os que pensavam diferente dela eram extremamente desagradáveis.
O que me deixou ainda mais chocado foi escutar suas acusações e ao mesmo tempo notar que ela não era capaz de reconhecer sua própria condição. Sua aparência pessoal também estava fora de harmonia com o que a Bíblia ensina. Suas roupas, jóias, ornamentos, entre outras coisas, estavam em grande conflito com a vontade de Deus em relação à música que ela questionava.
Ao ouvir o discurso dela, fiquei pensando: “Que pena! É tão fácil enxergar o erro dos outros e tratá-lo de forma impaciente e intolerante. Pena que seja tão difícil enxergar o próprio erro com a mesma gravidade” O tema era importante, mas a maneira como estava sendo abordado era imprópria para um encontro cristão.
Com razão, alguém disse, usando um jogo de palavras, que “normalmente o problema não é o problema, mas o problema é como se trata o problema”. Por isso, Ellen  White lembra que “Deus quer que  sejamos sempre calmos e tolerantes. Qualquer que seja o procedimento de outros, devemos representar a Cristo, fazendo o que Ele faria em circunstâncias semelhantes. O poder do nosso Salvador não consistia no emprego de palavras vigorosas e incisivas. Foram a Sua gentileza, Seu espírito abnegado e despretensioso que fizeram dEle um conquistador de corações. O segredo do nosso êxito está em revelarmos o mesmo espírito” (Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 156).
Sem dúvida, conquistamos muito mais com os joelhos do que com a língua e ajudamos muito mais com nossos conselhos e orações do que com críticas ou acusações.
Falando aos fariseus, Cristo tratou com clareza essa questão em Mateus 7:1-5. Eles tinham o hábito de enxergar com precisão o erro dos outros, mas passavam por alto seus próprios problemas. O diagnóstico foi claro: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?” (v. 3). É fácil enxergar o que os outros fazem como um grande erro e o que nós mesmos fazemos como uma simples fraqueza. É fácil dizer que para o erro dos outros não há justificativa, mas para os nossos existem explicações. Não podemos esquecer a regra áurea de Cristo: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (v. 12).
A igreja precisa ser um lugar de amor, onde gastamos mais tempo compreendendo e ajudando aqueles que possuem limitações. Assim como temos nossas fraquezas, contra as quais lutamos e precisamos de ajuda e compreensão, os outros também precisam de nossa força e oração, mesmo que suas falhas pareçam óbvias. Vamos lutar com nossos próprios erros e orar pelos dos outros. Esse é um grande desafio pessoal que deve ser conquistado pela graça de Cristo.
Não devemos, com isso, ignorar os problemas que afetam nossos membros ou a própria igreja, mas devemos agir da maneira certa, para realmente salvar ao invés de ferir. Não podemos nos tornar juízes ou investigadores da vida de nossos irmãos; tampouco, devemos nos ocupar da divulgação das fragilidades da igreja ou do erro dos outros, sendo assim portavozes do acusador (Ap 12:10). Quando nossos soldados lutam entre si, perdem a batalha. É por isso que Eilen White afirma: “Os soldados de Cristo talvez nem sempre revelem perfeição em sua marcha, mas as suas faltas não devem suscitar, da parte de seus companheiros, palavras que debilitem, e sim, palavras que fortaleçam e que os ajudem a recuperar o terreno perdido” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 344,345).
Precisamos levar essa questão a sério, porque “Deus responsabilizará aqueles que expõem insensatamente as faltas de seus irmãos por um pecado de maior magnitude do que responsabilizará aquele que dá um passo errado. A crítica e a condenação dos irmãos são consideradas como crítica e condenação de Cristo” (p. 345).
Erton Kohler
é presidente da Divisão Sul-Americana

Fonte: Novo Tempo

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