quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Meu Primeiro 2º. Dia dos Pais

“Porque tudo o que a gente merece neste dia é tudo o que a gente já tem!”
 Sou pai.
Fiquei apavorado com o teste positivo, descontrolado comprando coisas pro quarto, desnorteado nas consultas pré-natais e abobalhado durante o parto. Se pra mim o mundo já havia caído com a notícia, parou tudo quando peguei meu nenê nos braços. Flutuei suspenso como quem sonha. Meu sorriso de paspalho traduziu um coração feliz, com uma mente de aprendiz, num corpo de super-homem.
De lá pra cá, tudo virou de ponta-cabeça. Meus sapatos nunca mais estiveram no lugar, minhas chaves jamais continuaram secas, nem minhas revistas sobreviveram ao “estraçalhamento”. Entro em casa tropeçando em panos e pisando em patinhos – invado a noite dormindo aos pedaços e orando por inteiro – além do sono em fatias trazendo sonhos assustadores. O silêncio virou preocupação, tomar banho um completo Dilúvio e meu veículo um carro-alegórico do avesso.
Sou pai.
Passei assistir Discovery Kid´s, pechinchar o preço do Lego e decorar marcas de fraldas. Papinha é um assalto disfarçado, shampoo infantil um roubo descarado e sapatinhos “fofos” um seqüestro intolerável. Por que criança custa tão caro? Porque o valor das coisas é medido pela raridade delas – e o mercado sabe que para cada pai seu bebê é único.
Mas não me importo com nada disso – sou pai-coruja e nem ligo por manchar minha gravata. Já saí cheirando pomada, trabalhei com algodão no terno e dei carona pra gente importante pisando bolacha pelo chão. Atraso mais do que admitiria um dia, vejo uma invasão de coisas sobre a pia e no meio das duas sou completa minoria.
Minha filha e minha esposa são uma coalizão de infantaria capaz de me vencer em qualquer pedido. Não sou banana, não! Mas se tiver que descascá-la amassando bem quietinho, faço e não reclamo. (Vai Farinha Láctea junto, aí?)
Outro dia, às nove da noite, virei malabarista tentando trocar uma fralda neste serzinho alucinado. Todos os frascos voavam longe, com uma perna eu abria o lixo, o outro pé pisava num bichinho, uma mão segurava as perninhas, o outro braço segurava a pomada, na boca a fralda nova, o celular tocava no bolso, o choro assustava o bairro, a música do móbile era filme de terror e a mãe, lá do banho, ainda gritava “mais rápido!”. Enfrentei com valentia o impossível, e já cantava vitória contratado no Cirque du Soleil, quando, de repente, minhas mãos ficaram subitamente molhadas. E com água morna?! Cadê a torneira? Bom, não era água bem assim… mas, veio junto com um sorriso banguela, feito duas meias brancas no varal, que me quebrou em mil pedaços. Tive que rir e começar tudo outra vez (torcendo pra não vir com o “número 2” junto…).
Fazer o que? Sou pai. “Queimo o filme”, “chuto o balde” e “pago mico” – tudo junto, e sem stress! Horas atrás, confundi os tubos plásticos com seus conteúdos e troquei a pomada anti-assadura pela pasta dental infantil. Seu bumbum ficou cheirando tuti-fruti e sua gengiva com gosto de Hipogloss. E daí? Curto tudo isso (ela talvez não!). Pior foi a vez, num hotel, que me distraí enquanto a patroa dava uma saída, e a menina bebeu todo o frasco de shampoo 2 em 1. Os momentos seguintes foram épicos. Enquanto eu levava bronca da mãe, a filha ficou o dia inteiro sorrindo bolhas de sabão. Mas ficou tudo bem…
Êita, a gente muda pra valer, mesmo. Filmes me emocionam mais, noticias me assustam como nunca, estou interessado em dicas de educação e preocupado com a mensalidade da faculdade em 2027. E quando ela começar a namorar? Com um frangote de bermuda caída mostrando a zorba? Ficou doido? E se alguém lhe magoar? Será que ela vai me levar junto com as amiguinhas ao shopping? Continuará usando macacãozinho aos 18 anos? Entrarei com ela, num corredor florido, só para lhe dar de mão-beijada a um machão-tosco-metido-a-besta? Chega… senão a paranóia me mata.
Por isso, eu repito: ser pai é morrer de saudade!
Neste dia dos Pais, quero me olhar no espelho, suspirando profundamente e vendo o que a vida fez comigo. Mereço uma homenagem, um desfile em meu nome, um discurso do presidente da nação. Sou pai, e não sei como o mundo não parou pra me reconhecer. Faço papel de bobo, carrego bolsa rosa, rastejo de quatro no chão e não tenho mais vontade própria. Prefiro a vacina em mim, petrifico com um grito mais forte e arranco a perna de alguém se mexer num dedinho dela. Fiquei mais corajoso, mais atento e mais sensível. Tudo isso, sem perceber direito este um ano que passou voando.
E você, que também é pai?! De sangue ou de coração? Casado, viúvo, separado, ou talvez largado? Torcedor de qualquer time ou torcendo body no varal? Engravatado lá fora e vestido de Buzz dentro de casa? De barba feita pra impressionar, ou maquiado de Barbie para agradar? Somos todos iguais – e completamente diferentes.
Parabéns! Se olharmos pelas mães, merecemos menos – pela força de aço que elas têm. Se olharmos pelo comércio, merecemos mais – pela publicidade estereotipada vendendo loção pós-barba. Mas se olharmos para quem nos tornou pais, daí sim, tudo o que a gente merece é tudo o que a gente já tem – uma paz na alma de quem é o que só Deus também é.
Um Pai.
Neste dia de todos os dias, seja o pai que você sempre quis ser – e veja em seus braços o que o Pai do Céu sempre sonhou pra você.
E, melhor ainda, se vier com um beijinho junto (e bem babado, no meu caso!).
Que Deus nos abençoe.
FELIZ DIA DOS PAIS!


Fonte:  Novo Tempo

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