Estamos vivendo o clima de mais uma eleição em nosso País. Nessas ocasiões, invariavelmente surgem entre o povo Adventista, muitos questionamentos com respeito à posição da Igreja diante das discussões políticas.
Alguns cristãos pensam que a Igreja não possui função política a desempenhar e que os membros não devem se envolver com política.
Outros, tem um ponto de vista exatamente oposto. Crêem que a responsabilidade de cada cristão é influenciar a política com vistas a construir um mundo melhor. Crêem também que ao deixarem de agir estão apoiando os erros e permitindo que a injustiça governe o mundo.
Outros cristãos ainda, uma minoria, crêem que a missão da Igreja é edificar a cidade de Deus aqui na terra.
Hoje pretendemos, com fundamento na Bíblia e no Espírito de Profecia, trazer alguns subsídios para que cada um, possa com segurança cumprir o nosso dever, não apenas como cristãos, mas também como cidadãos.
I – EXERCÍCIO DE UM DEVER DE CIDADÃO
Todos nós brasileiros temos o privilégio de exercer o direito de cidadania através do voto. Cidadania é a capacidade política que tem o indivíduo para influir na formação do governo, seja na forma ativa, pelo exercício do voto, seja na condição passiva, como exercente de funções eletivas.
Sempre é oportuno recordar que nesta congregação, certamente existiram muitos que foram privados de exercer plenamente esse direito por mais de vinte anos, quando vigeu o regime militar. Muito mais do que um direito é um dever cívico . Não nos é reservado como cristãos apenas lastimar os desmandos da administração pública. Podemos e devemos dar nossa parcela de contribuição para eleger governantes que tenham boas qualidades e um mínimo de valores morais para administrar a coisa pública.
Neste sentido, Arthur L. White, publicou em 14 de agosto de 1952, do acervo de Publicações esparsas de Ellen White, o seguinte posicionamento:
“É privilégio de cada indivíduo exercer o direito do voto. Ninguém tem autoridade para negar-lhe este privilégio. A Igreja Adventista do Sétimo Dia não procura ditar a seus membros como eles devem votar, ou se devem votar. Isto é deixado a critério de cada um agir dentro de seu próprio julgamento no temor de Deus”.
“Embora o membro individual da Igreja tenha o direito, se assim ele quiser, de votar, a Igreja em si deve manter-se inteiramente fora da política. Uma coisa é os membros individuais da Igreja votarem, outra coisa é estes mesmos indivíduos em suas capacidades (cargos) da Igreja, procurarem influenciar medidas políticas”.
II – FATOS HISTÓRICOS
Em 1859, nossos pioneiros, em Battle Creek, ao se defrontarem com determinados problemas locais em época de eleições, procuraram encontrar um caminho quando preocupados com suas responsabilidades como cidadãos de uma comunidade. O Pastor Tiago White e o irmão J. N. Andrews, segundo registro feito no diário de Ellen G. White em 1859, “consideraram melhor, pôr sua influência a favor do direito e contra o erro.” Acharam que deviam votar a favor dos melhores homens que se candidataram a cargos oficiais na cidade, “em vez de, por seu silêncio, correrem o risco de virem os intemperantes ocuparem os postos .” (Ver Temperança , 255)
Quanto aos problemas nacionais que afetavam nosso povo nos dias dos pioneiros, eles concluíram que deveriam votar em candidatos que fortalecessem a causa da temperança e da liberdade religiosa.
O livro História do Adventismo, pág. 149 relata que em 1861, os dirigentes de Battle Creek recomendaram que as várias congregações se organizassem sob o nome “Adventistas do Sétimo Dia”. E, em outubro daquele mesmo ano foram dados os passos iniciais para a formação da Associação de Michigam.
Em 1865, a Associação Geral, consta nos registros de sua Terceira Sessão, a questão do dever dos Adventistas do Sétimo Dia, votarem. Sob o título “Votação”, encontramos o seguinte:
“Resolvido: Que em nossa concepção, a ação de votar quando exercida em favor da justiça, humanidade e daquilo que é certo, é em si inatacável, e pode ser em algumas ocasiões altamente próprio; mas que a apresentação de qualquer voto que fortaleça a causa de crimes tais como intemperança, insurreição e escravidão, é considerada por nós como altamente criminosa à vistas dos céus. Mas nós reprovamos qualquer participação no espírito de controvérsia entre partidos.” (Relatório da Terceira Sessão Anual da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, publicado na Review and Herald, 23 de maio de 1865).
III – COMO ESCOLHER OS MELHORES CANDIDATOS
1- Escolha entre os melhores candidatos. Verifique: é temperante?
“Quantos desmerecem sua prerrogativa como cidadãos de uma república, comprados por um copo de uísque para dar seu voto a algum candidato infame. Como classe, os intemperantes não hesitarão em usar de engano, suborno, e mesmo violência contra os que recusam ilimitada licença ao apetite pervertido.” (Review and Herald, 08/11/1881) Temperança, 254
2- Utilizar bem a prerrogativa de cidadão. Escolha aqueles que fortalecerão a causa da liberdade religiosa.
“Não podemos trabalhar para agradar a homens que irão empregar sua influência para reprimir a liberdade religiosa, e pôr em execução medidas opressivas para levar ou compelir seus semelhantes a observar o domingo como sábado. O primeiro dia da semana não é um dia para ser reverenciado. É um sábado espúrio, e os membros da família do Senhor não podem ter parte com os homens que o exaltam, e violam a Lei de Deus, pisando Seu sábado. O povo de Deus não deve votar para colocar tais homens em cargos oficiais; pois assim fazendo, são participantes nos pecados que eles cometem enquanto investidos desses cargos.” (FEC, 475 § 2)
Note que em muitos capítulos de diversos livros do Espírito de Profecia há advertências contra as corporações sindicais:
Os sindicatos e confederações do mundo são uma armadilha. Conservai-vos fora, e longe deles, irmãos. Nada tenhais a ver com eles. Por causa desses sindicatos e confederações, logo será muito difícil nossas instituições levarem avante seu trabalho nas cidades.
Essas uniões [sindicatos] são um dos sinais dos últimos dias. Os homens estão se unindo em feixes prontos a ser queimados. Podem eles ser membros da igreja, mas enquanto pertencerem a essas uniões, possivelmente não poderão observar os mandamentos de Deus, pois pertencer a essas uniões significa desrespeitar todo o Decálogo.
Os sindicatos serão um dos instrumentos que trarão sobre a Terra um tempo de angústia tal como nunca houve desde o princípio do mundo. Vida no Campo, pág. 16.
3- Há uma insistência muito acentuada nos hábitos de temperança.
“Homens intemperantes não devem, por voto do povo, ser colocados em posições de confiança.” (Signs of the Times, 08 de julho de 1880)
4- Votar no homem por suas qualidades morais, o respeito à família e preparo para o exercício do cargo e não pelo partido a que pertence.
“Não podemos, com segurança, votar por partidos políticos, pois não sabemos em quem votamos.” (OE, 391)
5- Discrição. Escolher o melhor sem divulgar em quem votou. Manter o voto em segredo.
“Sejam quais forem as opiniões que tenhais em relação a dar o vosso voto em questões políticas, não as deveis proclamar pela pena ou pela voz.” (II ME, 336 § 1)
6- Ninguém tem o direito de induzir a outro a votar neste ou naquele candidato. Cada um é livre para votar em quem achar melhor.
“Mantende secreto o vosso voto. Não acheis ser vosso dever insistir com todo o mundo para fazer como fazeis”. (Carta 4, 1898 – II ME, 337)
Os exemplos mais notórios que encontramos na Bíblia são os de José e Daniel (Gên. 41:40, Dan. 6:02). Deus providenciou para que chegassem a ocupar altos postos na administração de grandes impérios. José chegou a ser o segundo homem no Egito e Daniel foi um dos três presidentes que supervisionavam os cento e vinte sátrapas que administravam o império de Dario. Foi primeiro ministro, “fiel estadista nas cortes de Babilônia” ( FEC , 205). Sadraque, Mesaque e Abede-Nego (Dan. 3:12), provavelmente foram governadores ou no mínimo secretários de estado da Província de Babilônia.
IV – CONCLUSÃO
Tendo em vista os pré-requisitos assinalados pelo Espírito de Profecia, temos diante de nós pelo menos duas situações inusitadas que trazemos à reflexão:
1) Não raro a Igreja tem necessitado que algum exercente de mandato público, interfira em favor dela na solução de vários problemas. Sem contar as questões mais conhecidas como as que se referem a guarda do sábado, aqueles que tem necessitado relacionar-se com os órgãos públicos sabem quanto embaraço e quanta burocracia existe. Poderíamos citar alguns exemplos:
a) Uma simples inscrição no Conselho Municipal de Assistência Social;
b) Consecução de espaço público – estádio, auditório, ginásio de esportes, etc;
c) Colaboração com um “campore” de Desbravadores;
d) Consecução de uma verba para custear um projeto de Assistência Social;
e) Doação de um terreno;
f) Liberação de alguma obra de construção que por arbitrariedade da fiscalização tenha sido embargada;
g) Na tramitação de papéis para expedição de alvarás de construção, demolição ou certidões as mais diversas;
h) O reconhecimento de imunidade do IPTU para templos, escolas e casas pastorais;
i) Intercessão em prol de um aluno ou trabalhador que está com problemas com o sábado;
Enfim, as situações são as mais diversas e seria exaustivo enumerá-las todas. Mas, a ironia é que a Igreja tem, constantemente necessitado buscar a intercessão de homens alheios e até apáticos aos princípios Adventistas. Algumas vezes, esses homens são evangélicos, mas não é a regra.
2) A segunda situação inusitada é que a Igreja tem, constantemente, se utilizado da intercessão de homens de influência no relacionamento com o Poder Público. É uma necessidade comum no contexto brasileiro. Mas, ironicamente, se surge um candidato que é Adventista ou que freqüenta a Igreja, ainda que ele conserve os princípios cristãos e preencha boa parcela das qualidades enfocadas pelo Espírito de Profecia, quais sejam: valorização da temperança, de elevados princípios morais, do cultivo dos bons costumes, do respeito à família, a defesa da liberdade religiosa, etc, ele é rejeitado.
Repetidas vezes, o que lamentavelmente se verifica é que os membros preferem desperdiçar seu voto em candidatos destituídos de valores morais edificantes, do que votar naqueles que convivem na Igreja. Por causa disso tem acontecido decepções freqüentes, pois determinados políticos, demonstram interesse e procuram a Igreja somente em época de eleições. Depois de eleitos, passam a desdenhar e perseguir a Igreja ou os guardadores do sábado, ainda que de forma indireta.
Sejamos mais criteriosos. Já que no Brasil o voto é obrigatório, busquemos conhecer o perfil dos candidatos em quem pretendemos votar.
Verifiquemos se eles possuem um mínimo que seja, das qualidades apontadas pelo Espírito de Profecia e cumpramos nosso dever, pedindo a orientação Divina para tanto.
Para concluir, relembramos as palavras da Sra White em Obreiros Evangélicos, de que não podemos ser omissos e mesmo assim achar que estamos cumprindo a vontade de Deus:
Todo indivíduo exerce uma influência na sociedade. Em nossa terra favorecida, todo eleitor tem de certo modo voz em decidir que espécie de leis hão de reger a nação. Não deviam sua influência e voto ser postos do lado da temperança e da virtude? OE, 387
“Falamos dos resultados, trememos pelos resultados, e cogitamos que podemos fazer com os terríveis resultados, ao passo que, com freqüência, toleramos e mesmo sancionamos a causa. Os defensores da temperança deixam de cumprir seu inteiro dever a menos que exerçam sua influência por preceito e exemplo – pela voz, pela pena e pelo voto – em favor da proibição e da abstinência total” . OE,388
“O povo de Deus não deve votar, para colocar tais homens em cargos oficiais, pois assim fazendo, são participantes nos pecados que eles cometem enquanto investidos desses cargos ”. OE, 392
Nosso desejo é que todos tenhamos discernimento claro e sejamos instruídos por Deus ao exercermos tão alto privilégio que influenciará os destinos, não somente da nação brasileira, mas contribuirá para a conclusão da pregação do evangelho e o breve retorno de Nosso Senhor Jesus em glória e majestade.
Alcides Coimbra
Advogado
Fonte: Novo Tempo
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